Sou um filho único nascido na década de 50 numa pequena cidade de interior (Caçador-SC) e lá vivi até meus 17 anos a vida solitária dos filhos únicos.
Eu me sentia como se estivesse dentro das cenas de natureza da revista National Geographic que mostravam as lutas pela sobrevivência entre predadores e presas; me identificava com as fisionomias das crianças nas cenas captadas pelos fotógrafos de guerra; me impressionava com os desenhos que ilustravam a Divina Comédia de Dante Alighieri que de uma maneira pedagógica minha avó mostrava; e até tinha certa atração por ver as imagens do livro de receitas "Dona Benta" de minha mãe.
Assim algo despertou e nutriu a imaginação e a vontade de construir imagens. E mesmo sem imaginar onde isso me levaria, comecei a fotografar ainda adolescente, aproveitando a câmera, o incentivo e o conhecimento de meu pai. Adquiri minha primeira câmera com dezoito anos, uma Olimpus Triped, e com a qual produzi fotografias muito densas daquele cotidiano em que estava inserido. Aquelas fotos tinham a força de chocar as pessoas. Hoje entendo que era a maneira que eu encontrava para contrabalançar as decepções daquele frustrado jovem estudante de engenharia que tinha a necessidade de ser visto com algum tipo de força qualquer. Segui a profissão de engenheiro e continuei fotografando.
No final desta carreira, entendi que deveria fazer com que a fotografia ocupasse um espaço maior em minha vida como forma de expressão de meus sentimentos e ideias sobre o mundo e as pessoas. Naquele momento meu objetivo era fazer fotografias perfeitas com o pouco que conhecia. Estudava possibilidades para produzir fotos que pudessem me causar alegria e bem-estar num futuro, quando eu seria o espectador do meu próprio trabalho. Publicar algo não era nem sonho.
Observando o próprio trabalho, o interesse pela fotografia aumentou, senti necessidade de buscar interlocutores e novos espectadores. Para minha surpresa surgiram também grandes amizades. Hoje a fotografia faz parte do meu estar no mundo. Através desta procuro expressar, ordenar e compreender a mim mesmo e meu entorno. Meu olhar se importa com o humano e a luta pela vida, a energia da mulher como protagonista no contexto individual e social, o que remete às forças que cercaram minha vida.
Agora não basta mais fazer a melhor fotografia possível, não se trata de uma questão técnica, entendo que a fotografia é mais. Todos os retratos que faço na verdade falam de quem eu sou. Entre suas múltiplas possibilidades, para mim a fotografia e a arte são formas de expressão, pessoal e intransferível.